Imigração nos EUA: a aproximação de Trump e Maduro que decepcionou ativistas venezuelanos

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    Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Os beneficiários do TPS receiam que serão obrigados a sair dos Estados Unidos nos próximos dois meses.Article informationAuthor, Valentina OropezaRole, BBC News MundoTwitter, @orovalentiReporting from Miami, FloridaHá 7 horasQuando o presidente americano Donald Trump assumiu seu segundo mandato, cidadãos de 17 países possuíam Status de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês) nos Estados Unidos.A lista incluía países como o Afeganistão, Somália e Camarões. Entre os latino-americanos, estavam El Salvador, Haiti, Honduras, Nicarágua e Venezuela.Até o momento, Trump encerrou a proteção migratória apenas para um destes países: a Venezuela.Esta decisão irá obrigar 348.202 venezuelanos, que obtiveram o TPS em 2023, a abandonar os Estados Unidos até o dia 7 de abril, a menos que consigam outro status migratório para se legalizar ou apresentem petições de asilo para que não sejam deportados.O anúncio provocou indignação entre os venezuelanos residentes nos Estados Unidos. Dias antes, eles já haviam recebido a notícia da suspensão do parole pelo governo Trump, que é outra permissão humanitária que beneficiou milhares de venezuelanos durante o governo anterior, de Joe Biden (2021-2025).”Nós não nos sentimos apenas traídos, nós nos sentimos usados”, declarou a ativista venezuelana-americana Adelys Ferro, diretora da organização Venezuelan American Caucus, com sede em Miami, no Estado americano da Flórida.Na manhã de segunda-feira (3/2), Ferro participou de uma entrevista coletiva de ativistas venezuelanos para condenar a eliminação do TPS. O evento ocorreu no El Arepazo, um restaurante emblemático de Doral, o município do condado de Miami-Dade que abriga a maior comunidade de venezuelanos do sul da Flórida.”O compromisso de campanha do presidente Trump era primeiro contra os criminosos, depois contra os sem documentos e, agora, contra os imigrantes, sem importar seu status”, lamentou ela.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Adelys Ferro (centro) e Helene Villalonga (à direita) dirigem grupos de ativistas que questionam a eliminação do TPS para os venezuelanos.”O que irá acontecer com os que não puderem voltar para a Venezuela, mas também não conseguirem ficar nos Estados Unidos sem um trabalho legal?”, questionou a ativista Mayra Marchán, da organização de ajuda humanitária All for Venezuela.”Como eles irão fazer quando perderem a cobertura do seguro ou não puderem levar seus filhos para a escola, com medo de serem deportados?”A coletiva não atraiu apenas ativistas e repórteres, mas também beneficiários do TPS. Eles buscavam orientações para evitar que sejam somados aos 11 milhões de imigrantes sem documentos nem status legal nos Estados Unidos, que são alvo da política de deportações em massa de Donald Trump.”Não sei o que vou fazer, eu pensava que tivesse feito bem as coisas”, declarou à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) um venezuelano com TPS que solicitou anonimato. Ele assistiu à entrevista coletiva como ouvinte.”Nunca pensei que me sentiria tão perseguido nos Estados Unidos quanto na Venezuela”, lamenta ele.Crédito, Valentina Oropeza / BBC MundoLegenda da foto, Mayra Marchán lamenta que os beneficiários do TPS não poderão trabalhar legalmente nos Estados Unidos a partir de abril.’Melhorias notáveis’No final da coletiva, todos no restaurante se perguntavam quais seriam as condições que teriam melhorado na Venezuela – um país que o governo americano qualifica como “ditadura” e com quem vem mantendo relações hostis, principalmente durante o primeiro mandato de Donald Trump (2017-2021).A concessão do TPS depende do secretário do Departamento de Segurança Nacional, que concede a proteção aos estrangeiros que corram riscos ao retornar para seus países de origem.A Lei de Imigração e Nacionalidade dos Estados Unidos prevê quatro cenários que justificam o TPS: conflitos armados, desastres naturais, limitações no país de origem para receber seus concidadãos ou condições “temporárias e extraordinárias”, que impeçam o regresso dos cidadãos com segurança.A decisão da secretária de Segurança Nacional, Kristi Noem, publicada no Diário Oficial americano, reconhece que continuam existindo “certas condições” que justificam o TPS na Venezuela.Mas ela defende que existem “melhorias notáveis em várias áreas, como a economia, a saúde pública e a criminalidade, que permitem que estes cidadãos regressem com segurança ao seu país de origem”.Três meses antes, o então secretário de Segurança Nacional do governo Biden, Alejandro Mayorkas, concluiu exatamente o contrário.Ele anunciou a extensão do TPS porque a Venezuela “continua enfrentando uma grave emergência humanitária devido a uma crise política e econômica, bem como violações e abusos de direitos humanos, altos níveis de criminalidade e violência”.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, A secretária de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Kristi Noem, ordenou a eliminação do TPS para os imigrantes venezuelanosA decisão foi publicada em outubro do ano passado. Ela indicava que todos estes fatores prejudicavam “o acesso a alimentos, remédios, assistência médica, água, eletricidade e combustível, levando a altos níveis de pobreza”.Durante a última década, 7,89 milhões de pessoas emigraram da Venezuela. É o maior êxodo da história da região, segundo as Nações Unidas, causado pela crise política e econômica do país.Pelo menos 85% desses venezuelanos se instalaram na América Latina, mas outros milhares entraram irregularmente nos Estados Unidos durante o governo Biden, através da fronteira com o México. Esta situação foi condenada por Trump e por outros dirigentes republicanos.Antes de comparecer à entrevista coletiva no El Arepazo, a ativista Mayra Marchán contou ter recebido uma mensagem de um conhecido na Venezuela, perguntando se ela já havia enviado um kit cirúrgico solicitado para a cirurgia da sua filha, uma jovem de 18 anos que sofre de um tumor cerebral.”Se não conseguirmos fazer chegar isso, eles não terão como operá-la”, ela conta. “É a este país que iremos fazer regressar 300 mil pessoas.”Crédito, EPALegenda da foto, Dois aviões da companhia aérea Conviasa chegaram à Venezuela com o primeiro grupo de deportados dos Estados Unidos na segunda-feira, 10 de fevereiro.Durante o segundo semestre do ano passado, o governo venezuelano de Nicolás Maduro reconheceu ter detido 2 mil pessoas durante os protestos contra os resultados das eleições.”A maioria desses venezuelanos que saíram, fugindo de uma crise humanitária sem precedentes, sente hoje a angústia da perseguição política dentro dos Estados Unidos”, declarou a ativista venezuelana Helene Villalonga, presidente da organização Amavex.Muitos moradores de Doral acreditavam que ficariam mais protegidos com Donald Trump na presidência americana e que as mudanças políticas que eles desejam ver na Venezuela se tornariam mais viáveis.”Na Venezuela, a situação não melhorou, pelo contrário”, afirma Villalonga. “Não entendemos quais são as mudanças de circunstâncias para que os venezuelanos regressem ao país.”Em meio a uma inesperada aproximação com o governo Maduro, Trump conseguiu deportar, na segunda-feira (10/2), 190 venezuelanos. Eles aterrissaram no Aeroporto Internacional Simón Bolívar, perto da capital venezuelana, Caracas, em dois aviões da companhia aérea estatal Conviasa.Depois de receber em Caracas o emissário de Trump, Richard Grenell, e libertar seis detentos americanos, Maduro garantiu sua disposição de receber os voos de deportados, se a Casa Branca levantar as sanções contra seu governo. Ele declarou que foi dado o “primeiro passo” para uma agenda de entendimento.A deportação de migrantes é uma das principais políticas de Trump. Para executá-la, ele precisa firmar acordos para que os países de origem recebam os voos.Mas o secretário de Estado americano, Marco Rubio, descartou que a visita do enviado especial a Caracas constitua uma demonstração de reconhecimento político ao governo de Maduro.”Não há conversações para reconhecer Maduro”, declarou Rubio, durante sua visita à América Central no início de fevereiro. “Na verdade, nós não o reconhecemos.”Crédito, EPALegenda da foto, O presidente venezuelano Nicolás Maduro recebeu em Caracas o enviado especial norte-americano, Richard Grenell, no dia 31 de janeiro.A sombra do Trem de AraguaA decisão de Kristi Noem destaca que permitir que os venezuelanos beneficiários do TPS permaneçam nos Estados Unidos “contraria os interesses nacionais”.Em entrevista para o canal de notícias americano Fox News, a secretária defendeu que a decisão do seu predecessor, de estender o TPS para os venezuelanos, “fazia com que eles pudessem permanecer aqui, violando nossas leis por mais 18 meses, e nós detivemos isso”.”Vamos seguir um processo, avaliar todos esses indivíduos que estão no nosso país, incluindo os membros do TdA”, declarou ela, em referência ao Trem de Aragua, a facção do crime organizado criada em uma prisão do referido Estado venezuelano.Adelys Ferro destacou que, segundo números do Departamento de Segurança Nacional americano, apenas 600 pessoas foram identificadas como suspeitas de manter vínculos com o Trem de Aragua nos Estados Unidos.”E nenhum deles tem TPS”, declarou ela aos jornalistas.”Sabem por quê? Porque uma pessoa que tem TPS precisa colocar suas impressões digitais em um registro biométrico, passar por uma revisão dos seus antecedentes criminais e comprovar onde mora.””Estamos sendo marcados e passamos a ser alvos devido à forma como nos veem”, declarou Ferro.”A estigmatização cada vez maior de que somos vítimas nos preocupa”, alertou Helene Villalonga. “É claro que existe um grupo chamado Trem de Aragua, mas não podemos permitir que o generalizem e associem toda a comunidade venezuelana àqueles delinquentes.”



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