Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Daniel Noboa assumiu o poder em novembro de 2023Article informationOs equatorianos reelegerão Daniel Noboa ou votarão por uma mudança na presidência do Equador?O país sul-americano realiza novas eleições gerais neste domingo (9/2), após um período de 14 meses e meio não apenas incomum, mas também turbulento do pontos de vista político, econômico e social.Este é o tempo que o político e empresário de 37 anos teve para colocar em prática suas propostas sobre segurança e economia, as duas áreas que mais preocupam os equatorianos.Depois de atingir altos níveis de popularidade no início de seu mandato, a imagem de Noboa se esvaziou ao longo dos meses, embora ele continue sendo o favorito de acordo com a maioria das pesquisas eleitorais.Quatro das últimas cinco pesquisas publicadas antes das eleições dão a vitória ao líder da Ação Democrática Nacional (ADN) e apenas uma à sua principal concorrente, Luisa González, do Movimento Revolución Ciudadana, liderado do exílio pelo ex-presidente Rafael Correa.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Luisa González concentrou sua campanha em segurança, investimento social, educação gratuita e energia renovável, entre outras questõesQuase todos os analistas preveem que haverá um segundo turno, algo que acontecerá se nenhum dos candidatos obtiver mais da metade dos votos no primeiro turno ou 40% com uma vantagem de 10 pontos sobre o candidato em segundo lugar.Além de Daniel Noboa e Luisa González, outros 14 candidatos estão concorrendo à presidência, incluindo Andrea González, do partido de direita Sociedad Patriótica, e Leónidas Iza, do partido indígena e de esquerda Pachakutik.Embora se presuma que nenhuma das minorias chegará ao segundo turno, seus resultados determinarão a composição da tradicionalmente fragmentada Assembleia Nacional Equatoriana e poderão desempenhar um papel fundamental no jogo de alianças.Analisamos como o Equador vai às urnas e quais circunstâncias marcaram o breve, mas intenso, período sob a presidência de Noboa.Por que há eleições novamente?Quando completou 24 meses no cargo em maio de 2023, o então presidente Guillermo Lasso entendeu que seria quase impossível para ele completar seu mandato de quatro anos.Em meio a uma grave crise de segurança e suspeitas de corrupção, Lasso foi alvo de um processo de impeachment iniciado pela Assembleia Nacional — no qual ele tinha apoio minoritário — por suposto desvio de recursos em um contrato de transporte de petróleo.Para evitar ser destituído, Lasso invocou a “morte cruzada”, um recurso constitucional incluído na Carta Magna de 2008 que permite ao presidente equatoriano dissolver o Congresso se considerar que este bloqueia sua administração.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, O processo de impeachment iniciado pela Assembleia levou Lasso a dissolver o parlamentoCom a dissolução do poder legislativo, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) organizou eleições antecipadas, cujo primeiro turno foi realizado em 20 de agosto de 2023 e o segundo em 15 de outubro daquele ano.Lasso, com baixa popularidade na época, não se candidatou à reeleição.Sem estar entre os favoritos, apesar de pertencer a uma família influente de políticos e empresários, Daniel Noboa se apresentou como um novo candidato de centro-esquerda disposto a romper a alternância entre o Correísmo e a direita tradicional e aplicar medidas de choque contra o crime.Contra todas as probabilidades, ele passou pelo primeiro turno e, no segundo, venceu com 51,83% dos votos sobre os 48,17% de Luisa González.Noboa assumiu a presidência em 23 de novembro de 2023 com o mandato de completar o último ano e meio da presidência de Lasso (2021-2025), que termina em maio deste ano.Assim, o Equador realiza neste domingo o primeiro turno das novas eleições gerais. Se um segundo turno for necessário, ele ocorrerá em 13 de abril.Além do presidente e do vice-presidente, os equatorianos elegerão os membros da Assembleia Nacional.A guerra contra o crime e os 4 de GuayaquilA localização estratégica do Equador nas rotas do narcotráfico, a corrupção institucional e a proliferação de gangues que coordenam extorsões e assassinatos impunemente a partir das prisões, entre outros fatores, mergulharam o país em uma espiral cada vez mais grave de violência desde o início desta década.Quando Daniel Noboa assumiu o cargo, o país estava passando pelo pior momento da maior crise de segurança de sua história.Quase 22 pessoas foram assassinadas em média por dia no Equador em 2023 — um recorde histórico. Enquanto isso, estupros, sequestros, extorsões e roubos se multiplicaram.Além de mostrar ao mundo a gravidade da crise de segurança equatoriana, esse evento espalhou a percepção generalizada no país de que era necessário aplicar um “punho de ferro” para resolvê-la.Noboa aplicou o estado de exceção, permitindo a mobilização das Forças Armadas nas ruas e dentro das prisões.”Ao contrário de Guillermo Lasso, ele conseguiu controlar as prisões e isso teve um impacto muito positivo”, diz Caroline Ávila, especialista em comunicação política, à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.Sua estratégia teve um efeito imediato na percepção dos cidadãos: nos primeiros meses de seu mandato, Noboa alcançou mais de 80% de aprovação nas pesquisas.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, As gangues criminosas equatorianas tradicionalmente usam as prisões como bases e centros de comandoNo entanto, os resultados de seu projeto de segurança anunciado, chamado Plan Fénix, estavam longe da mudança radical que muitos haviam previsto.”No nível dos indicadores, há algumas pequenas melhorias, mas não foi uma mudança significativa”, diz o analista político equatoriano Andrés Chiriboga.O número médio de assassinatos por dia caiu de 22 em 2023 para 19 em 2024, de acordo com dados oficiais, uma variação que muitos consideram insuficiente, dada a magnitude da campanha contra o crime, parcialmente financiada por um aumento no Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de 12% para 15%.A criminalidade também aumentou drasticamente em janeiro de 2025, o mês mais violento dos últimos três anos, com 731 assassinatos, uma média de 23,5 por dia, quase um a cada hora.E embora os roubos e desaparecimentos também tenham diminuído sob a administração de Noboa, as denúncias de extorsão aumentaram 17% e a percepção de insegurança entre os cidadãos diminuiu apenas 4% em comparação com o período de Lasso, de acordo com pesquisas e dados oficiais.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Os métodos de combate ao crime de Noboa foram questionados após o caso dos quatro menores assassinados em Guayaquil, que causou forte comoção no paísEnquanto isso, o caso dos “4 de Guayaquil” mostrou o lado mais sombrio da guerra de Noboa contra o crime.Em 8 de dezembro de 2024, quatro menores foram presos por membros das forças armadas em Guayaquil, a cidade mais populosa e uma das mais inseguras do Equador, após jogarem uma partida futebol.Dias depois, seus corpos carbonizados apareceram com sinais de tortura perto de uma base militar.”Ficou claro que foram os militares que, abusando de seu poder, os sequestraram e assassinaram. Em seguida, eles tentaram encobrir isso”, explica Chiriboga.O escândalo desencadeou protestos massivos, levou à prisão de 16 soldados, e colocou em xeque as táticas repressivas do governo.Também demonstrou, segundo o analista político, que “de mãos dadas com a política de segurança de Noboa, há diversas violações dos direitos humanos”.”Este caso dos quatro meninos não é isolado: é o mais sério, o que mais chamou a atenção da imprensa e da opinião pública, mas há muitos outros relatos de desaparecimentos e abusos”, diz Chiriboga.Recessão e apagõesEm 2024, o Equador sofreu uma recessão econômica atribuída, entre outros fatores, a uma grave crise energética que causou apagões em todo o país.No quarto trimestre do ano, o produto interno bruto (PIB) recuou em 1,5% na comparação anual, um dos piores resultados desde a pandemia.No final do ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou uma contração de 0,4% para a economia do Equador em 2024, enquanto para 2025 prevê uma recuperação modesta de 1,6%.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, A exportação de produtos alimentícios, como o cacau, é um dos pilares da economia equatorianaQuanto aos resultados econômicos medíocres, a analista política Caroline Ávila destaca que o governo de Noboa “teve que pagar muitas dívidas pendentes, principalmente do governo anterior de Guillermo Lasso” e o ministro das Finanças, Juan Carlos Vega, “conseguiu organizar as contas”, apesar de uma dívida de cerca de US$ 50 bilhões (R$ 288 bilhões), equivalente a 40% do PIB.Nessa situação, o FMI aprovou em maio de 2024 um empréstimo de US$ 4 bilhões por 48 meses, com um desembolso imediato de US$ 1 bilhão, algo que deu uma trégua ao país e, segundo Ávila, foi interpretado como uma vitória para o governo Noboa.”Embora seja verdade que houve uma tentativa de ajuste fiscal, a situação econômica continua difícil, especialmente em termos de mercado de trabalho”, diz o analista.”Me chama a atenção que não se falou muito sobre a situação econômica nesta campanha e não houve muitas propostas concretas a esse respeito”, ressalta, apesar de as pesquisas apontarem a economia e a falta de oportunidades de emprego como as maiores preocupações dos equatorianos, após a insegurança.A taxa de pobreza subiu de 26% em dezembro de 2023 para 28% no mesmo mês de 2024, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística e Censo (INEC).Do lado positivo, a inflação ficou sob controle na economia dolarizada do Equador: em dezembro, os preços variaram em 0,5% na comparação anual.O que tem sido um grande problema, não só econômico, mas também político e social, é a crise energética.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Apagões causaram prejuízos milionários às empresas e forte descontentamento socialDesde setembro passado, o Equador sofreu apagões programados que, em alguns casos, ultrapassaram 12 horas por dia, situação atribuída à seca que reduziu a geração hidrelétrica, a principal fonte de energia do país, e à falta de investimento em infraestrutura nos anos anteriores.”Estima-se que 200 mil empregos foram perdidos como resultado dos apagões. Só com esse número você pode perceber o impacto econômico que a população está sofrendo”, diz Ávila.Apesar de serem atribuídos às políticas de administrações anteriores, o impacto econômico dos apagões e o descontentamento social que eles causaram podem afetar Noboa nas urnas deste domingo, segundo analistas.Em abril de 2024, a polícia e as forças militares equatorianas invadiram a embaixada mexicana em Quito para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas, que havia solicitado asilo político para evitar processos judiciais.Essa ação sem precedentes levou ao rompimento das relações com o México e gerou críticas de organizações internacionais e de vários países da região, considerando-a uma violação da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, O ataque à embaixada mexicana provocou reações em todo o continentePara a analista Caroline Ávila, essa operação arriscada e incomum responde ao caráter de um presidente que “sempre esteve no limite da legalidade” e não hesita em tomar decisões que desafiam as estruturas institucionais estabelecidas.”O Estado de direito no Equador já está bastante deteriorado e Noboa é uma pessoa que não tem medo de fazer as coisas como quiser”, diz Andrés Chiriboga. “Para ele, a Constituição e o Estado de direito não importam. Isso é algo que não vimos com Lasso ou Lenín Moreno”, completa.Apesar disso, muitos analistas acreditam que a prisão de Jorge Glas reforçou a popularidade de Noboa entre os equatorianos, ao projetar uma imagem de autoridade e força.Nesta semana, o presidente anunciou a imposição de uma tarifa de 27% sobre as importações mexicanas para proteger os produtores equatorianos e promover um acordo de livre comércio sob condições mais favoráveis, em uma medida interpretada por muitos como uma tentativa de retaliação pela crise diplomática.Outra fonte de tensão que marcou a era Noboa foi sua ruptura total com a vice-presidente, Verónica Abad, a quem ele nomeou embaixadora em Israel no que parecia uma clara tentativa de removê-la do poder.As tensões se intensificaram recentemente quando o presidente, durante sua campanha pela reeleição, nomeou Sariha Moya, ministra do Planejamento, como vice-presidente interina, em uma decisão questionada pela Corte Constitucional.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, O presidente e a vice-presidente Verónica Abad (foto) demonstraram total desarmonia desde o início do mandato e Noboa decidiu removê-la do cargoEleições polarizadasOs turbulentos 15 meses no poder afetaram Noboa em termos de popularidade, com seu apoio caindo de mais de 80% nos primeiros dias da guerra contra o crime, para menos de 50% nas últimas pesquisas do final do ano passado.Mesmo assim, analistas destacam a capacidade do presidente de sobreviver, já que ele continua sendo o favorito para vencer a eleição, apesar de seus resultados questionáveis em segurança, economia e gestão da crise energética.”Algumas pessoas acreditam que a culpa é de Noboa, mas outras dizem que a culpa é dos governos anteriores ou dos militares que não sabem como fazer seu trabalho”, diz Ávila.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Segundo analistas, Noboa manteve uma estratégia de comunicação eficaz, preservando certos níveis de popularidade apesar das circunstâncias negativas que cercaram o Equador nos últimos 14 meses e meioChiriboga, por sua vez, afirma que “a oposição não conseguiu oferecer uma alternativa suficientemente atraente e as pessoas não acreditam que outro candidato possa resolver as coisas”.De fato, os analistas concordam que, embora o Correísmo representado por Luisa González tenha uma base sólida de eleitores incondicionais que ultrapassaria 30% do eleitorado, é muito difícil atrair votos do resto da esfera política.Todas essas dúvidas serão esclarecidas, em todo caso, quando os equatorianos votarem nas urnas neste domingo.Esta reportagem foi escrita e revisada por nossos jornalistas utilizando o auxílio de IA na tradução, como parte de um projeto piloto.
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