A estratégia da defesa de Bolsonaro, de tentar atribuir o plano golpista a militares que estiveram na alta cúpula do governo, foi encarada por esses generais como um “espírito de deslealdade” por parte do ex-presidente. A avaliação é de que, na tentativa de se salvar, Bolsonaro repete o comportamento de “entregar” aliados de primeira hora, de quem esteve com ele durante todo o governo. Esse comportamento foi visto pelas defesas desses militares como uma forma de traição, já que o advogado de Bolsonaro tentou dizer que o ex-presidente não tinha conhecimento da criação de um “gabinete do golpe”.
Essas análises ganharam musculatura entre generais, depois que o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, disse em entrevista à GloboNews, nesta sexta-feira, que o “gabinete do golpe” seria comandado pelos ex-ministros Augusto Heleno e Walter Braga Neto e que Bolsonaro não faria parte. Paulo Cunha Bueno, inclusive, indicou que Bolsonaro poderia sofrer um “contragolpe”, porque, se o plano desse certo, quem assumiria o governo seriam esses militares mais fieis ao então presidente.
Essa postura irritou esses militares. A defesa de um deles disse, de forma reservada à CBN, que Bolsonaro adotou uma “clássica jogada de opinião pública”, porque faz um apelo popular de que ele não tinha conhecimento do plano, o que, para esse advogado “é, estrategicamente, uma loucura”. Outro advogado disse, de forma reservada, que a postura não surpreende, porque Bolsonaro é conhecido por adotar a linha de que “não fui eu quem fiz, mas outros fizeram”, como ocorreu com o ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, e o pai dele, o general Cid. Outro, ainda, classificou o comportamento da defesa de Bolsonaro como “contraditória” diante de tudo o que já foi revelado no inquérito.
Para o advogado criminalista Fábio Tofic, Bolsonaro, enquanto presidente, não só prevaricou, mas também foi conivente, ao ter conhecimento do plano golpista e não ter comunicado à Polícia Federal:
“Tem a ideia de que ele pode ter absolutamente sido pego de surpresa (o que não é a ideia mais plausível) e não aderiu, não concordou. Como que um presidente da república toma conhecimento de que está sendo tramado um golpe e não toma nenhuma providência? Se fosse contra a vontade, como um chefe de um Estado Democrático de direito, era uma obrigação dele (ter tomado providência). Neste caso, era obrigação dele tomar atitude e, portanto, a atitude não pode ser encarada só como uma prevaricação. É uma adesão dele ao espírito golpista”, destaca.
Pela organização do “gabinete do golpe”, Augusto Heleno seria o chefe, Braga-Netto o coordenador-geral e o general Mário Fernandes e o coronel Élcio Franco os assessores. Esses militares integram a lista dos 37 indiciados pela PF.